a geração da Nonna foi marcada por privação, ao passo que ela jovem viveu a segunda guerra mundial. a típica família descendente de alemão/italiano* que venceu na vida através do trabalho no campo.
mamãe e papai viveram o próprio êxodo, e encontraram no funcionalismo público a estabilidade pra viver uma boa vida. a partir disso que tivemos os privilégios que nos deram, como estudo de qualidade e o incentivo a fazer um curso superior. esperam em nós o que eles mesmos alcançaram.
meus irmãos cumpriram o papel, ambos funcionários públicos, casados, com casa, carro e filho. o pacote completo. sob essa ótica, orgulhos da família.
já barb e eu, apesar do diploma, não seguimos o mesmo rumo - até tentamos, mas às duras penas descobrimos (talvez cedo demais) que não era nossa praia. ambas, trabalhando como assessoras em órgão público em cidades do interior iniciadas com a letra C (apenas uma curiosidade que eu aprecio), ganhando talvez mais que o restante da família, descobrimos que o dinheiro não traz só felicidade, veio carregado com a depressão.
barb foi ainda mais resistente que eu, que fiquei só seis meses no trampo.
talvez pela falta de resistência, já é a terceira vez desde 2018 que eu me sinto desabraçando a depressão. na primeira vez, comecei me ganhar de volta quando estourou a pandemia. na segunda, descobri em 2021 a indianara (minha nova eu), que a passos largos tenta abocanhar a vida. depois da segunda onda fui me reencontrando, mas uma tatuagem me trouxe novamente ao poço. e agora, após o luto pelo papai, me sinto cada vez mais perto da minha verdadeira essência.
a vida eh boa demais, afinal de contas
voltando às gerações, sinto que barb e eu vamos romper o ciclo, posto que nonna passou por privações, e mami e papi encontraram estabilidade no serviço público, cabendo à barb e eu a instabilidade. desconfio que nossa tarefa seja amar e ser livre, prerrogativas pra trabalhar com o que a gente goste e abrir mão do controle.
eu ainda não sei o que vai acontecer, não faço ideia qual minha missão, mas já sinto a esperança brotar no coração.
por isso, mesmo, que no post anterior disse que tô sorrindo à toa.
*no masculino porque, no fim das contas, a sociedade é patriarcal, apesar do fato que se fosse matriarcal, chegaríamos a Eva subindo pelo cordão umbilical
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