Assim como Clarice Lispector, tive meus momentos de epifania - entende-se por epifania o momento em que mergulha em seus pensamentos e retorna à vida com uma nova forma de pensar. Costumava acontecer isso quando meus pais brigavam comigo - sempre fui muito teimosa e, até uns dois anos atrás, eu não sabia que eles é que terão a razão, estando eu certa ou não - e quando ia para o quarto passar o dia trancada de castigo (eu me trancava para não ter de encarar ninguém naquela situação) pensava, pensava, pensava. E então resolvia os problemas na minha mente, pingava os Is, cortava os Ts, ficava um longo tempo sem comer (não que fosse jejum, eu não era louca, no máximo greve de fome, o que aliviava um pouco a minha barra com a Mamãe) e então ia dormir. E por mais que tudo estivesse ruim, eu sabia que, ao acordar, estaria melhor, estaria tudo bem. Aquele clima de pós-briga podia permanecer no ar, mas eu não iria dar o braço a torcer. O rosto inchado do choro e as reflexões feitas durante o