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Epifania

Assim como Clarice Lispector, tive meus momentos de epifania - entende-se por epifania o momento em que mergulha em seus pensamentos e retorna à vida com uma nova forma de pensar. Costumava acontecer isso quando meus pais brigavam comigo - sempre fui muito teimosa e, até uns dois anos atrás, eu não sabia que eles é que terão a razão, estando eu certa ou não - e quando ia para o quarto passar o dia trancada de castigo (eu me trancava para não ter de encarar ninguém naquela situação) pensava, pensava, pensava. E então resolvia os problemas na minha mente, pingava os Is, cortava os Ts, ficava um longo tempo sem comer (não que fosse jejum, eu não era louca, no máximo greve de fome, o que aliviava um pouco a minha barra com a Mamãe) e então ia dormir. E por mais que tudo estivesse ruim, eu sabia que, ao acordar, estaria melhor, estaria tudo bem.
Aquele clima de pós-briga podia permanecer no ar, mas eu não iria dar o braço a torcer. O rosto inchado do choro e as reflexões feitas durante o castigo não poderiam ser em vão. Sempre dava um jeito de melhorar e seguir com minha filosofia epifânica. Minha mãe achava estranho eu dizer, mas gostava dos castigos por causa disso: pensar, refletir. Quantas vezes você para para olhar o céu e pensar em como tudo tem ocorrido? Uma? Duas? Várias? Nenhuma? Ah, qual é? Vai dizer que não é bom de repente parar e pensar: Eu sou!
Pois eu digo e repito: Eu sou! Eu sou! Eu sou! Eu sou! Eu sou! E sou também olhando o céu, esteja de noite ou de dia, estrelado, com nuvens ou totalmente azul em gradiente. E quanto àquele beija-flor visto sábado passado? Percebe? São essas coisas que nos fazem mergulhar nos pensamentos e ressurgir como uma nova pessoa, mesmo que não haja tanta reflexão. 

Comentários

Eliz disse…
Belíssimo... e bem vc mesmo. kkkk Que alma bonita nossa emburrada chorana tem. Sim, alma, pois quem escreve expõe ao mundo seu interior.
Hahaha, como tudo na vida há uma segunda chance. Acho que tive a minha, então tenho de escrever para, no futuro, ver como um dia fui. :)

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