consagrando ayahuasca eu pude viver muitas vidas
fui felina, fui andrógina, fui filha da mata, filha do mundo (fiz morada no caminho), tive tranças e dreads
fui derretendo, mas também minha pele foi grudenta e irresistível
passar a língua nos meus dentes caninos fizeram eu me sentir uma onça pintada, braba e manhosa, que sobe em árvore pra deitar
chorei de amor pelos sobrinhos, pelo afeto admiração e respeito que estamos cultivando; sinto que esse amor foi um sentimento de vibração tão elevada que me levou pra borracheira
também vivi uma vida com meu sobrinho mais velho, como irmãos; vivemos a adolescência e o começo da fase adulta juntos - eu o vejo, e o sinto, vi nele muito de mim, no jeito e na aparência
vivi um romance sáfico do jeito que eu imaginava ser, gostoso ser mulher e cultivar outra comigo, vivi minha própria saída do armário, experienciando o nervosismo de conhecer e fazer parte da vida dela
ri do cachorro caramelo que olha de soslaio, ri do “mestre” mais velhinho, uma figura; ri por conhecer as pessoas sem meu ego, sendo acolhida, ri porque apesar da minha experiência borboletinha, fui avisada que meu arrocho também vai chegar
eu vivi muito ontem, tudo o que eu pude imaginar, sem pressa e sem medo de acabar, estive presente nas interações e respeitei meus questionamentos, fazendo-os em voz alta e sem vergonha
tive vontade de fazer errado ao chegar em casa e tomar um banho pra chamar a borracheira de novo, mas fui paciente e tentei dormir - pelo que pareceram horas, a cabeça a mil, se agarrando a qualquer viagem sem me deixar ao menos fazer uma prece - exausta do trabalho mental, elevei meu pensamento pra Jesus com muita garra e, como se estivesse correndo, falei as palavras de encerramento, que vão levando a borracheira e levou, dormi e acordei descansada em menos de sete horas de sono - o sono da justiça - feliz, dando bom dia cheio de amor
a rainha da luz e ao rei da força permanecem comigo.
Comentários